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A pós-modernidade
O que é a pós-modernidade?
Talvez possamos começar por uma pergunta como essa. Isso por que o termo em questão corre para diversos lados quando o buscamos definir. Conceitualmente, pós-modernidade é uma miscelânia estruturas sociais que definem nossa época, tendo influência fundamental na existência individual e na constituição do chamado "ethos" do sujeito contemporâneo. Alguns autores, entre diversas áreas do conhecimento, chegam a dizer que pós-modernidade não existe, já que ainda construimos ou deixamos de construir a própria modernidade, essa estrutura social iluminista, cartesiana que hoje nos toma e nos acorrenta.
Por tanto, se me couber defini-la, diria que é uma época contruida e pautada na confluência das contradições. A estrutura social como nós a conhecemos sofre abalos, temos transtornos na política, econômia, ciência, religião, em uma escala cada vez mais fluida e próxima a nós. Boa parte das contradições podem dizer respito a dois pontos importante:
1º Apesar do avançado crescimento e uso da tecnologia não o podemos conciliar com um avanço social que influencie na vida de boa parte dos habitantes da terra.
2º Como que surgido de um longo sonho, o existencialismo vulgar começa a ser pensado, atuando ante o pluralismo religioso e na constituição e descontrução do conceito de identidade do homem moderno ou pós-moderno.
Particularmente, não creio na existência de uma pós-modernidade como a estão construindo, mas percebo um movimento de destruição de práticas e metamorfoses no cotidiano. Na igreja, isso pode ser percebido ante nossa dificuldade de lidar com o pluralismo religioso ou em assumir nossa missão sem perder o foco.
Pós-modernidade e Ilusão
A entrada do homem na modernidade filosófica sempre pareceu está condicionada ao domínio da arte e da técnica, fato comum aos indígenas de todos os continentes, sabedores de toda a técnica necessária para a sobrevivência coletiva e construtores de uma cultura que traz beleza e uma estética corporal incrível. Mais que isso, o projeto político de diversas populações do Brasil de muitos séculos atrás, nunca esteve de forma alguma condicionado ao domínio e exploração da natureza como fizemos e fazemos nós, ditos “civilizados”. Pensado nisso, e refletindo sobre as conseqüências da manutenção de todo nosso domínio material, abro o parêntesis necessário para repensar essa modernidade ilusória, que em minha modesta opinião, não se concretizou de fato, apesar de já existir uma pós-modernidade em curso.
Sobre modernidade, esta surgida em idos do século XVII com uma nova visão de progresso cultural e desenvolvimento material irmanado no capitalismo, legitimada pela Revolução Industrial no século XIX, amplamente elaborada e reconstruída durante as revoluções tecnológicas, e agora em constante reformulação (isso me lembra Bauman e seu conceito de modernidade líquida) na era da informática, mais que expor sua atividade ante a natureza, coloca em evidência o impacto causado ao meio num desenfreado gesto de apropriação. Se ser moderno é dominar a arte e a técnica, ser moderno hoje é apropriar-se do meio para manutenção de uma ordem material conquistada a muito custo.
Desde o surgimento do ideal de homem moderno, isso no século XIX, diante do surgimento e progressão de algumas ciências como a sociologia, a biologia, a filologia e a economia política, que começaram a usar a idéia de pensar o humano finito e suas atividades sociais, em face de uma idéia clássica de classificação biológica, se instaura no planeta a conduta do ser humano, esta mais ativa e intensa que na época clássica: agora, mais que vencer “mares nunca dantes navegados”, o homem corrói sua própria estrutura de sobrevivência.
A modernidade é inacabada, pois não se encerra em si mesmo no seu gesto de formação e apropriação, como seria o caso de o estabelecimento de uma ordem sustentável de apropriação, de uma visão cultural que propusesse a manutenção da ordem material pela efetiva reformulação das estruturas condicionantes. O que de fato não acontece, principalmente quando observamos a história no século XX, período repleto de contradições e distorções sociais. É preciso contar aqui os impactos ambientais e perceber que a modernidade é destrutiva e termina na eliminação das formas de vida no planeta; incluindo na taxonomia nós mesmos. A mesma condicionante cultural que por se dizer “esclarecida” atuou ao longo da história numa busca pelo papel da razão em torno de melhores condições materiais ao ser humano é a mesma que não consegue mais frear o avanço material e a destruição das formas de atuação resignificadas dos diversos agentes de parazitação global.
O projeto inacabado dá lugar a uma maneira de pensar que se tornou comum, apesar de ser extremamente duvidosa: a pós-modernidade. Aí entram em curso múltiplos conceitos já estabelecidos, como é o caso de Jean-François Lyotard, Fredric Jameson, Zygmunt Bauman, Gilles Lipovetsky e Jürgen Habermas, ou muitos outros já superados. Pode-se até falar numa hipermodernidade, numa transmodernidade, numa intermodernidade, numa metamodernidade, conceitos que podem até aludir a uma nova conceituação, mas que na atualidade tendem a uma equivalência. Contudo, o que nos importa nesse momento é refletir sobre a chegada do fenômeno e perceber as implicações para nosso tempo. Se pós-modernidade é uma era das incertezas, a vivemos na prática, já que somos condicionados por incertezas, e pior, incertezas que nos trazem medo. O certo também, é que vivemos na era do medo, em todas as suas formas: da economia, os EUA podem quebrar a qualquer momento; na política, Israel pode causar uma guerra amanhã mesmo, assim como os peruanos podem invadir o Acre e atingir os índios isolados em questão de minutos; na vida particular, os assaltos, as balas perdidas, os medos cotidianos, etc.
Creio, porém que um dos nossos maiores problemas ainda estar por causar medo a todos. Estar ainda cozinhando lentamente, quase despercebido, não fosse alguns sinais que muitos insistem em não ver. É o medo da insuficiência dos recursos naturais ante nossa inevitável e moderna crise ambiental; é o medo das conseqüências e dos impactos ao meio que atingem o homem e que causam destruição e dor. É o medo das conseqüências da separação ética do homem e da natureza, embate a ser discutido no nosso tempo, que a meu ver, não mais pode ser vencido, restando-nos apenas lutar uma guerra pela manutenção de algumas de nossas condições matérias e pela adaptação para a sobrevivência da espécie, que será extinta paulatinamente após alguns séculos.
Em minha leiga visão sobre o assunto já posso sugerir algumas batalhas para o ser humano de hoje e do futuro: a produção e descarte dos resíduos (nosso famoso lixo), o aquecimento global, o desmatamento, o crescimento demográfico e a contaminação das águas potáveis. Creio que somente esse conjunto pode garantir nossa completa eliminação do planeta. Mas você, que é um entusiasta da sustentabilidade pode me dizer o velho discurso de medidas alternativas, estas que considero paliativas, e que creio que têm sua validade e são benéficas, apesar de apenas refrearem uma condição produzida historicamente. Em sua resposta digo que creio em todas elas e que sou entusiasta também, já que quero um ambiente mais limpo, melhores condições de vida, melhoras em nossas cidades, um ar mais puro, uma temperatura mais amena, um futuro melhor para as próximas gerações. Mas nada me tira da mente o espectro universal da exploração irracional, subvertida em alguns discursos ambientais da atualidade, que são forjados nos subterrâneos do capitalismo mundial.
Podemos fazer algo ainda, mas não podemos voltar atrás em séculos de exploração que serviram para criar nossa condição de homem moderno e racional, mas que hoje nos causam medo e que nos levam ao pós-moderno como etapa a ser transporta para um mundo pós-humano. Não há escala geométrica de evolução tecnológica que possa vencer nossa própria vontade de destruir-nos a nós mesmos.
A Era do Instável
Quadro de Salvador Dali |
A época que nos caracteriza hoje é instável. Uma era de ilusões, já que nada é o que parece. Buscamos, tateando na trilha do tempo uma lógica que não mais existe. A igreja sofre com os refluxos de uma época que se diz melhor que as outras e se permite tudo em todos os sentidos.
Ante a situação atual, o cristão pós-moderno, que não se reflete em sua época, mas a tem como cenário de atuação, toma para si as missões de Cristo e procura ser um ponto de resistência, mesmo que mínimo, que não deixa a voz da Boa Nova ser abafada.
Uma imensa teia de resistência pode ser edificada com a ajuda de muitos. Sobre a malha do discurso ocidental que versa da religião e do oriental sobre tolerãncia, o cristianismo evangélico não pode ser apagado, mas mostra-se no seu explendor para a Glória de Deus e a Salvãção de muitos.
Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.
João 14:6