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A rua das ilusões!

Escrito por Editor on segunda-feira, janeiro 16, 2012 in

Ocorreu-me sempre que o cristianismo seria uma cidade de uma única rua. Sempre agradou-me esta percepção. Desde os tempos que defendia meu catolicismo pessoal, uma doutrina própria que construi e que seguia, reservando-me o direito de dizer que estaria salvo por isso. Na metáfora urbana que propunha, apesar de a cidade ter uma única rua apenas, que insistentemente saia para fora de si, também reservava-me o direito de afluir e dobrar a esquina para uma viela qualquer, ou mesmo estacionar na calçada, e em ultima opção, de bloquear a rua impedindo o trânsito. Sempre eu encontraria um caminho alternativo que não fosso o naturalmente proposto pelas estruturas literárias. Até que um dia me dei conta da verdadeira história, por isso, creio ser necessário contá-la agora, para a indignação dos cristãos que têm metáforas mais sublimes!

Eu que penso nos sentidos não me coloco na cidade de Lhu, outrora Buurp, deserto oeste daqui. Os que já visitaram não voltaram lá outra vez, tudo por que a cidade só tem uma rua, que persiste insistentemente para fora de si mesma. Rua de mão única, que escorre desde o seu início até o seu fim, não podendo o visitante jamais fazer o retorno.

É fácil encontrar, em todos os mapas temos a referência exata da latitude e longitude, os caminhos mais seguros, os atalhos mais rápidos, mas sem jamais uma orientação sobre como proceder ao passar pela rua em questão. Eu que penso em sentido para as coisas, adianto que passaria devagar, observando lentamente o movimento das pessoas nos seus ofícios, podendo parar a qualquer tempo, para não precisar retornar.

Um velho sábio pelo caminho diz palavras boas aos que com olhos afoitos saem da cidade sem perceber e jamais retornam. Ele diz que Lhu é como a vida, sem volta, sem nova chance, sem instruções de como proceder como teríamos na bula de uma maleta de ferramentas.

O velho sábio conta que na vida não há perdão, só erro e que as coisas passam e que somos como os que passam por esta estranha rua. É muito difícil acreditar que tudo é como uma chama de vela ante o vento duma manhã nublada. A vida é só uma, apenas um rio de curso curto, do primeiro ao ultimo dia, sem retorno.

Mesmo não me contando, soube que uma nova chance pode haver para os que passaram despercebidos, sem ver o que habitava nas calçadas. Era só andar ininterruptamente adiante, dá a volta ao mundo, perfazendo a circunferência da terra.

Depois, procura-se uma vaga e se estaciona.

Creio que a saída aqui proposta é plausível. Depois de um erro na vida cristã, um pecado, um tropeço, diga como quiser, para os outros, não nos adianta arrepender-se e seguir o certo, mas é preciso viagem maior, até que os outros, a imensa igreja visível, nos perdoe e nos veja como certos. Isso pode demorar, advirto-os, dura-se um ano, dura-se uma vida. Dura-se até uma volta ao mundo.

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